terça-feira, 23 de junho de 2009

As consequências de nossos atos ou "o que um planejamento mal feito pode fazer com uma cidade"



O vídeo postado foi encontrado no blog Copenhagenize.com, um blog bem legal que retrata a vida na capital mais "ciclável" do mundo (como é difícil achar algo que se aproxime do sentindo da palavra "cycling" em português) e seu mote é "pelo amor à bicicultura".

Apesar de todo em inglês, as imagens do filme superam qualquer dificuldade linguística e conseguem demonstrar muito bem o potencial da bicicleta para tornar-se um elemento de transformação do espaço urbano, que aproxima e estimula o contato entre as pessoas, quando deixa de ser considerada como um simples "brinquedo" e passa a ser levada a sério como meio de transporte. Isso sem contar todos os outros benefícios repetidos à exaustão pelos entusiastas da bicicleta, como melhorar a saúde, o tráfego e o meio-ambiente das pessoas e das cidades

Alguns dirão que isso é "coisa de europeu". Até parece que os caras nasceram com algum gene que os obriga a sair pedalando por aí! Por incrível que pareça, a Dinamarca não era um país com forte tradição em bicicleta. Esta foi uma decisão tomada na década de 70, durante as crises energéticas que assolaram o mundo. A partir daquele momento decidiu-se por uma política de planejamento orientado ao estímulo e à inclusão dos meios de transporte alternativos ao carro no meio urbano, especialmente a bicicleta.

O resultado está aí em cima pra todo mundo ver: uma cidade que oferece uma opção de transporte não-motorizado para os moradores.

Já a imagem abaixo, retirada do blog Apocalipse Motorizado, é o retrato das escolhas que nós tomamos no passado em São Paulo. Todos sabemos e sentimos na pele o que é viver em uma cidade que literalmente "não anda". Uma demonstração clara de que escolhemos o "caminho errado" foi nosso último recorde: 295 Km de congestionamentos numa véspera de feriado!!



A tragédia é perceber que apesar da falência escancarada deste planejamento rodoviarista, o estímulo ao carro será novamente a "escolha" feita por São Paulo: o último resquício de verde da já desolada marginal, que um dia já teve uma mata ciliar e um rio em que era possível nadar e pescar, vai "ganhar" seis novas pistas de rolamento ao custo de 1,5 bilhão que, segundo o Governador José Serra, vão melhorar em muito o fluxo das marginais.

É impressionante que se continue argumentando que construir mais ruas, avenidas e freeways seja a solução para o trânsito de uma cidade, especialmente São Paulo. O que se observa continuamente é que quanto mais espaço se abre para os automóveis, mais pessoas vão querer usar automóveis para se locomover. Quando, de fato, o que se faz urgente é a mudança do padrão de mobilidade desta cidade. O que se precisa é investir em novas opções de deslocamento para as pessoas, como transporte público de qualidade, uma ampla rede sobre trilhos e um sistema de transporte não motorizado. Uma nova opção.

Por último, e para o desespero dos motoristas de carro, vai a última imagem de uma cena atual e comum daqueles que vivem em São Paulo e que, pelo andar da carruagem e das políticas públicas de mobilidade, promete nos acompanhar por mais algumas décadas ou até a cidade parar de vez...

ps.: fica pra depois os comentários a proposta de isenção permanente de IPI para os carros feita pelo Presidente Lula. Que é a "cereja do bolo" do governo federal na política de mobilidade.


*Congestionamento na Avenida 23 de Maio, na altura da Rua Cubatão (Foto: Clayton de Souza/AE)

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